Gregory Porter, Coliseu 9 de Junho


A graça de Gregory Porter está no sucesso sem concessões. Irrompeu na cena musical há cinco anos, portador de uma voz de respeito e de um estilo todo ele ancorado nas origens, e alcançou um muito razoável sucesso comercial sem abdicar dessa marca inicial, sem entrar pelas vias do delicodoce, tão comuns a parceiros desta área, ou outros truques apontados às tabelas de vendas. Quando o ouvimos, ainda ouvimos as canções de trabalho dos escravos, o gospel das igrejas americanas, o blues dos campos de algodão e das cidades do álcool, ou a soul e o R&B dos anos 50 e 60, tudo isso estruturado em torno de um jazz clássico e sofisticado. O mérito vai para a voz, claro, um barítono com grande elasticidade, também para os músicos que o acompanham – nota relevante para o saxofonista Yosuke Sato -, mas acima de tudo para as canções. A par das obrigatórias versões, Porter tem vindo a gravar alguns temas que poderão, eles próprios, vir a integrar o repertório dos grandes standards, de que “Painted on Canvas”, com que tem aberto os concertos desta digressão, será um dos melhores exemplos. Porter e a banda têm um apurado sentido do espectáculo, mas isso o público português já sabe, tal tido sido a rotação por estas bandas.

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