Ryan Adams **

Felizmente, o Bryan Adams anda desaparecido. Caso contrário, lá teríamos que sublinhar o R inicial deste, de forma a evitar confusões. E agora, convenhamos, com toda a propriedade. Em entrevistas recentes, Ryan colocava os Velvet Underground e os Smiths (!!) como principais influências do novo disco. Era a brincar, seguramente. Isto é mais Bruce Springsteen de terceira ou quarta categoria ("I Just Might"), U2 ainda mais desinspirados do que de costume ("Shadows"), ou, sim, Bryan, o tal ("Am I Safe"). Uma música que, enfim, poderia ter sido gravada por qualquer uma dessas bandas, especialmente britânicas, preocupadas em fazer sons para estádio. Há uma tensão, na obra passada de Ryan, entre uma música mais serena, muito devedora do country (de que "My Wrecking Ball" é aqui um exemplo), e um som mainstream um tanto banal, sustentado em monótonos riffs de guitarra. Desta vez, ganhou o segundo.

The Antlers - Familiars ***

Se ficares muito quietinho, até consegues ouvir o monstro respirar. O monstro costuma estar debaixo da cama, mas neste disco está dentro de nós. As canções dos Antlers são das coisas mais sombrias que imaginar se possa. Problemas de personalidade, sustos de jovem adulto, crise de identidade. Mas foi isso que tornou em culto o trio de Brooklin, essa música assaltada permanentemente por fantasmas. Nesta quarta gravação de maior fôlego, há, porém, uma novidade de monta, que, nuns casos, adensa as sombras, noutros funciona como inesperado raio de luz - a omnipresença dos metais, especialmente o trombone e o trompete. Em "Revisited", por exemplo, os metais adornam a valsa e tornam-na quase dançante. Já em "Doppelganger" acentuam o nó na ganganta. A atravessar o disco há ainda a sonoridade do jazz e um ambiente de filme negro muito interessantes. Enfim, não é coisa para se ouvir todos os dias, mas...

Jose James - While You Were Sleeping ***

Há qualquer coisa de laboratorial nesta música. Para o bem e para o mal. É uma música de base assumidamente soul, mas que busca uma enorme sofisticação, seja numa sonoridade por vezes fria ("U R The 1"), seja por arranjos de grande densidade dramática (o órgão e as cordas em "4 Noble Truths"), seja, enfim, pela projecção da beleza sensual da voz de José James. Essa sofistação, nos limites do bom gosto comum, é obviamente uma boa aposta. Acaba, porém, por prejudicar o disco, retirando-lhe a alma que podemos ouvir, por exemplo, em "Simply Beautiful", uma boa versão de Al Green. Por vezes, a vertigem pelo cruzamento de influências é um tanto exasperante (o tema título, por exemplo, começa com uma citação descarada de "Heart of Gold", de Neil Young, e acaba num crescendo à la Radiohead). E há ainda citações mais ou menos assumidas de Nirvana ou Hendrix, por exemplo. O problema é que tal dispersão acaba por prejudicar a assumpção de uma voz própria.