Nome Comum - Cuco ***

Sendo voador, como é da natureza dos cucos, este é verdadeiramente um ovni musical, um objecto não identificado, ou de difícil identificação. E também de difícil audição, já que não obedece a modas, nem se deixa aprisionar por estilos ou correntes musicais. Exige disponibilidade e só na disponibilidade dá a ouvir as ricas nuances sonoras de que é tecido. Nasce do diálogo permanente e intenso, tão intenso que mais parece monólogo a duas vozes, de Bernardo (The Grey Blues Bend) e Madalena Palmeirim (colaborações com Minta & The Brook Trout e They’re Heading West) e faz-se acompanhar exclusivamente por instrumentação acústica. Bebe tanto nas raízes da música tradicional ("alentejar", de explícito erotismo), como em correntes de experimentalismo erudito e jazzístico ("ângulo morto", ou "anão gordo"), ou até em algum tropicalismo ("acordo tarde"). Um universo particular, talvez excessivamente circular e fechado.

Hellsongs - These Are Evil Times***

Ora aqui está um belo exemplo de serviço público - transformar temas de metal e hard rock em momentos divertidos, saltitantes, coloridos, ternos até. Inventaram mesmo uma corrente musical só para eles: metal lounge, uma aparente contradição nos termos. Bom, a verdade é que fãs de guitarradas ululantes e gritos farsantes devem abster-se. Isto é mais a onda dos Nouvelle Vague, música adocicada, vozes e coros melodiosos, para ouvir em jardins frescos numa noite de Verão. Atente-se, por exemplo, em "Equality" e estamos no universo musical dos Camera Obscura. Se optarmos por "A Silence So Loud", quase ouvimos o timbre delico-doce dos saudosos Carpenters... Já de uma graça inesperada é "Engel", dos Rammstein, que remete para o lado mais divertido da longíngua Nina Hagen. Porém, a surpresa deste quarto disco do trio sueco é mesmo a escrita em nome próprio, e logo em cinco temas. Destaque para "Animal Party". Ligeiro, claro.