Mark Eitzel - Dont’t Be A Stranger ****

“We All Have To Find Our Own Way Out”, por exemplo. São 4 minutos e 20 de piano e voz. Suaves. Mas em que se canta a solidão, o desespero, o suicídio. Tudo muito serenamente. Ou, logo na abertura, quando Mark Eitzel canta “she wrote I love you, but you’re dead”, numa canção que quase poderíamos considerar pop, pela escrita escorreita e pelos arranjos, do mais tradicional deste disco, baixo, guitarras, bateria. Sim, é de canções que aqui se fala. De canções muito bem construídas, de recorte tradicional, mas pela quais se vão infiltrando derivações inesperadas, encantatórias. Seja pelo que nelas se canta, reflexões de vida raramente luminosas, seja pelas texturas musicais que nos vão surpreendendo, sem nunca quebrar o frágil fio delicado que as tece. Porque, se é verdade que este disco marca o regresso de Eitzel ao traballho em banda, não é menos certo que por vezes nem se dá por ela, a banda, tal a subtileza dos tecidos que desenha. Há coisas de pura beleza, como “All My Love”, uma reinterpretação à volta do piano de um tema dos American Music Club (2008). Outras surpreendentes, como a barroca Break The Champagne (já ouviram um Marxophone? Procurem-no no Youtube...). Outras simplesmente grande canções, sem mais nada, como “Oh Mercy”. Este é, pois, um disco de canções, e também de uma banda. Mas é também o de uma voz. E muito se tem dito e escrito sobre a voz de Mark Eitzel, agora mais frágil, supostamente por causa do brutal ataque cardíaco de há dois anos. A verdade é que, seja qual for a razão, essa fragilidade vocal assenta que nem uma luva à melancolia temática e subtileza conceptual do disco. Enfim, um regresso em grande de um dos nomes marcantes das últimas décadas da indie, em nome próprio ou integrado nos intermitentes American Music Club.

Sem comentários: