Calexico - Algiers ****


Algiers, esclareça-se, é um subúrbio de New Orleans e os Calexico mantêm-se, portanto, no seu território habitual: o Sul dos Estados Unidos, com os ouvidos e talvez a alma ainda mais a sul, México especialmente. O sétimo disco desta banda do Arizona é o mais terreno de todos, com os pés na terra. O som continua a perseguir caminhos de fusão, mas o experimentalismo e a criação de ambientes têm vindo a dar lugar às canções. Só canções. “Epic”, por exemplo, abre o disco com a mais perfeita marca de água dos Calexico – um poema de amor arrebatado, melodia melodramática, encenação instrumental sempre surpreendente. O resto é enamoramento das guitarras do norte com os trompetes mariachis do sul, em “Vanishing Mind” ou “Puerto”, por exemplo. Ou as camadas subterrâneas de latinidade em “Sinner In The Sea”, que vêm à superfície no belo e doloroso “No Te Vayas”.

Poor Moon - Poor Moon ***


Impossível fugir à evidência – ouve-se Fleet Foxes a cada esquina deste disco. Não apenas pelo facto de Christian Wargo (que assina todos os temas) e Casey Wescott serem membros activos da banda de Seattle, mas especialmente porque, tendo embarcado num projecto autónomo, não fazem o mínimo esforço de distanciamento da banda mãe. O mesmo som etéreo, as mesmíssimas harmonias vocais, o mesmo bucolismo. A grande diferença reside na intensidade - à densidade gongórica dos Fleet Foxes respondem os Poor Moon com tecidos sonoros de grande subtileza. Cada canção é tratada como uma pequena jóia, em que instrumentos e vozes respiram com grande liberdade. “Bird”, uma quase cantilena infantil, “Phantom Light”, que parece ter nascido num salão do Renascimento, ou “Holiday” (já ouviram falar dos Belle and Sebastian?) são apenas algumas das canções que, comparações à parte, valem bem uma audição.

Alanis Morissette - Havoc and Bright Lights *

Alanis, Alanis, isto era tão, mas tão, desnecessário. Quatro anos sem disco novo – ou estavas a preparar alguma coisa em grande, ou estavas simplesmente com falta de imaginação. Infelizmente, nada havia de grande para mostrar. Grande, ou sequer pequeno. Não, apenas a repetição estafada dos mesmos esquemas melódicos, a mesma lenga-lenga autobiográfica, um tanto masoquista. Inventaste o duche escocês musical e não consegues sair disso – chegas de mansinho, em jeito de balada para encantar incautos, e depois desatas ao berros sobre um lençol de estridência neurótica, e depois ficas de novo mansinha, e depois... Isto cansa, Alanis. Oito discos nisto! E há momentos particularmente penosos, seja no registo balada (“‘Till You”), seja em coisas mais animadas, mas insuportavelmente empasteladas (“Spiral”). Tão entediante... E o bónus de um CD ao vivo em nada ajuda. Interpretação bera, som ainda pior. O que é isto, Alanis?

Band of Horses - Mirage Rock ****

Trabalho de sonho, este. Pegar numa banda, analisar-lhe as influências, depurar-lhe o som, reconfigurar tudo, de tal forma que o resultado seja a fórmula exacta de uma novidade que conhecemos há décadas. É o que faz Glyn Johns, o homem que produziu discos dos Beatles, Stones, Eagles, Ryan Adams... O trabalho, diga-se, era relativamente simples, já que os Band of Horses são uma banda bem ancorada na música americana. Glyn Johns retirou-lhe alguma da crueza dos discos anteriores (ainda assim audível em “Feud”, por exemplo) e reconduziu as canções às suas influências: “Dumpster World” (CSN, e depois Neil Young), “Sweet Cruel Hands of Time” (Eagles e America), “A Little Biblical” (Beach Boys)... O resultado é, obviamente, um som mais domesticado, mais comercial, apesar disso bem interessante, na medida em que se trata de um exercício claramente genuíno, nada forçado. Quarenta minutos de América, sem complexos.