k.d. lang - Sing It Loud ****

Há um fio condutor na obra de k.d. lang que este novo disco vem novamente evidenciar. E esse fio condutor é, precisamente, a ausência de um fio condutor. Explicando melhor: ao fim de quase três décadas, é difícil, ou mesmo impossível, detectar uma trajectória, preferencialmente de crescimento, na carreira desta canadiana americanizada. Ao country genuíno inicial, seguiram-se aventuras pelo country alternativo e pelos campos mais amplos da pop. Essa diversidade, digamos, não é o problema, já que a exploração de territórios nunca fez mal a ninguém. Problema, se quisermos mesmo problematizar, é a ausência de um corpo, a dificuldade em encontrar um sentido na dezena e meia de discos que já gravou.
E eis-nos, então, perante Sing It Loud, o disco com que k.d. lang parece querer abrir uma nova frente. Trata-se da primeira gravação, em muitos anos, em que surge acompanhada por uma banda própria, apelidada para o caso de Siss Boom Bang, nome fantástico. E isto é importante porque se trata, de facto, de um disco de banda, em que se ouve o conjunto e em que o conjunto tenta fazer sentido. É claro que o centro de tudo continua a ser a voz única e sensacional de k.d. lang. Ouça-se a sensualidade de “I Confess”, ou a elasticidade de “A Sleep With No Dreaming” e fica tudo dito ao fim das duas primeiras canções. Mas, já agora, a terceira (“The Water’s Edge”) também é muito boa e um excelente exemplo das guitarras e do órgão que dominam todo o disco.
As canções são todas (co)assinadas pela cantora e até há uma outra menos razoável (“Inglewood”, por exemplo), havendo apenas uma versão (“Heaven”, dos Talking Heads), que, sendo interessante, não é nada do outro mundo. Para primeiro disco de uma nova fase, é prometedor. Falta perceber como continua.