Wilco - (The Album) ****

Este bem poderia ser o disco dos Beatles que a América nunca conseguiu fazer. E a coisa até teria graça, neste ano (esperem pelo Outono…) em que a beatlemania está de regresso. Com alguma dose de boa vontade – estes exercícios exigem sempre alguma imaginação – conseguimos ouvir tiques vocais, apontamentos musicais, linhas melódicas, modos de resolver uma canção que poderiam fazer parte de qualquer um dos discos dos Fab Four, especialmente da fase final, ou até da fase a solo de McCartney e Harrison, especialmente.
Há uma canção descaradamente roubada ao Harrison dos anos setenta (“You Never Know”), a que nem falta a mesmíssima guitarra, mas há tudo o resto, em quase cada uma das canções. Ouçam, por exemplo, os primeiros 30 segundos de “Sonny Feeling” e imaginem Paul a cantar aquilo. E nas primeiras sílabas de “Everlasting Everything” até se consegue ouvir a respiração de Lennon, isto para não falar no modo como cada instrumento se acomoda na canção.
E, bom, para a teoria da conspiração falta ainda juntar que, à semelhança dos Beatles (com o álbum branco), também os Wilco decidem fazer um disco em nome próprio a meio da carreira…
Quem não estiver virado para este exercício um pouco alucinado, pode ouvir o disco por um prisma mais tradicional. Temos, então, uns Wilco maduríssimos, longe, muito longe, das experiências sónicas de outros tempos (“Bull Black Nova” será a excepção), mas também sem cedências ao apelo facilitista do country.
Trata-se, essencialmente, de um belo conjunto de baladas, já que são elas as rainhas do disco, se bem que o tema mais apelativo (“I’ll Fight”) seja uma poderosa reinvenção dyliana. Excelente para as festas de Verão.

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