Tom Jones - 24 Hours *****

Pede-se gentilmente às senhoras presentes na sala que não insistam no ritual vulgarizado nos anos 70 de atirar lingerie para o palco - aos 68, quase 69, o artista poderá não aguentar o impacto dos novos wonderbra… Não levem muito a sério quando ele canta “I’ve got sexual ambition… The older I get, the better I was”. A canção (“Sugar Daddy”), escrita por Bono e The Edge (U2), que também dão uma ajuda instrumental, pretende ser mais um retrato do artista “no seu tempo” que um diagnóstico ao seu actual estado.
Aos 68, quase 69, Tom Jones regressa pela enésima vez, agora para surfar a onda das Amy Winehouse que por aí andam a copiar aquilo que ele sempre foi. Soul, R&B, orquestrações luxuosas, grande pedalada, balada de fazer chorar as pedras da calçada, tudo isso e um charme arrasador, a raiar a provocação sexual.
O velho Tom, quase 69, regressa em grande forma… menos na voz. No vozeirão com que enchia as tais baladas e coisas mais aceleradas. Agora, é ouvi-lo no limbo, por exemplo, em “We Got Love” ou “Give a Little Love”.
Mas, se, aos quase 69, lhe falha a potência (!) da voz, onde está então o encanto? Na produção, precisamente. Este é um daqueles discos em que se recupera todo o esplendor do passado (comparem a entrada de “If He Should Ever Leave You” com a abertura de “Love Boat”, ou o electrizante “In Style And Rhythm” com “Sex Bomb”), apoiado agora nos múltiplos recursos existentes. Os Future Cut (produtores de, por exemplo, Lili Allen ou Estelle) conseguem o milagre de condensar num só disco sonoridades que fizeram os tops nas últimas quatro décadas.
Este é um daqueles discos que começa por se ouvir com desconfiança (que raio de capa… cheia de fumos) e que, depois, não se consegue largar. Ah, se a voz ainda lá estivesse toda!

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