Mafalda Veiga - Chão ***

A “Estrada” é o primeiro single, já passa nas rádios e dá o tom. Mafalda Veiga está igualzinha a si própria – “meu amor não quero mais palavras rasgadas” –, mas está menos melancólica – “eu só quero ser feliz”. Esse tom percorre quase todo o disco. Sem deixar o tom intimista, reflexivo, de que fez marca pessoal, a cantora está agora mais positiva. Sente-se na música e nas palavras, mas também na maneira como as canções são vestidas. Na produção está agora Miguel Ferreira, um dos nomes fortes dos Clã, que diz procurar uma sonoridade “mais orgânica, despida de pesos electrónicos”, que, em seu entender, assentam melhor na música de Mafalda. A verdade é que a aquela sensação (des)confortável de estarmos a ouvir os Trovante fora de tempo desapareceu por completo. E o que mais ressalta neste disco é a tentativa, geralmente bem conseguida, de abrilhantar cada canção de seu jeito. Dominam as guitarras, acústicas e eléctricas, nunca esmagadoras, mas há aqui e ali perfumes de órgão e de cordas e mesmo a presença forte do piano em alguns casos. Sempre dando espaço à voz, já que os jogos de palavras de Mafalda Veiga são a sua imagem de marca. A sonoridade é, enfim, decisivamente mais pop que nos discos que povoam duas décadas de carreira, mas isso não deverá afastar os fãs de sempre, já que tudo é feito de forma suave, mantendo todas as características que se colaram à pele.
Mafalda Veiga não gravava a solo desde 2003 (Na Alma e Na Pele), e ocupou boa parte deste intervalo numa colaboração de sucesso comercial com João Pedro Pais (Lado a Lado). Este Chão tem todos os ingredientes para um regresso em forma. O Verão está ganho.

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