Petrus Castrus - Mestre *****

Ao contrário do que por aí se diz, Portugal tem sido um bom e constante aluno das modas internacionais no que à música diz respeito. E não há que ter vergonha de ser bom aluno. Se houve o punk, logo tivemos os Xutos. Para o ié-ié, tinhamos à mão o Quinteto Académico. Contra os Beatles ié-ié atirámos os Sheiks e quando a coisa se sofisticou ainda sacámos do Cid e seu Quarteto.
Ah, e agora deu-lhes para se armarem em intelectuais e juntarem clássica com rock, poesia à séria com teatralidade, melodias e harmonias à solta? Pois que avancem os Castros com o Sophia, o O’Neill, o Ary, o Pessoa e o Bocage. Mais uns sintetizadores, uns metais, pianos acústicos e guitarras eléctricas. E temos Mestre, um dos melhores discos gravados em Portugal (verdadeiramente, foi em França e a qualidade sonora não o deixa mentir), e uma autêntica lenda agora viva – desde que viu a luz, em 1973, nunca mais foi reeditado e há quem garanta já o ter visto a mais de 500 euros em lojas de raridades e leilões por esse mundo fora.
Passadas mais de três décadas, mantém-se intacta a explosão de criatividade musical, servido por uma gravação impecável, rara para a época e agora em todo o seu brilho, devido à recuperação digital das fitas magnéticas originais.
A edição é fortemente enriquecida por dois extras datados de 1977 e ainda por um CD com inédito, Morte Anunciada Dum Taxista Obeso, gravado entre 2000 e 2005 e onde se mantém o mesmo registo satírico nas letras, mas em que se verifica uma actualização musical espantosa para quem está publicamente inactivo desde 1979. Não se espantem, pois, se “Toni, o Estripador” ou “Dedo no Gatilho” ainda rodarem por aí em alguma rádio.

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