The xx - I See You ****

Com algumas bandas, músicos em geral, vá lá, mas acontece mais com bandas, apetece perguntar: para onde vão eles? Por exemplo, com The xx. Inventam uma matriz, uma espécie de indie de matriz sintética, urbano-pouco-depressivo, gozam o sucesso planetário, repetem a dose e, depois, ao terceiro exercício, não negam nada, não inventam nada, mas fazem soar tudo um pouco diferente. O suficiente para que seja já outra coisa, sendo ainda o mesmo. O resultado é o disco mais pop da banda, sendo inevitável constatar que nunca se pareceram tanto com os Everything But The Girl, e não apenas da fase serôdia. Especialmente em certos (muitos...) fraseados de Romy Madley Croft, belíssimos, como, por exemplo, em “Brave For You”. Se bem que a matriz predominante sejam os diálogos dramaticamente contidos com Oliver Sim. Contenção que se estende, de resto, a todo o disco, obra e graça de Jamie xx, o mago das estruturas ora intensas (“Dangerous“, com aqueles trompetes sintéticos), ora esparsas (“Performance”) em que se desenvolvem estas histórias de desencontros e, agora, mais encontros. “Violent Noise”, por exemplo, fica sempre à beira de explodir na pista de dança, mas nunca sai desse limbo, precisamente por via dessa contenção extrema. Um dique que está sempre a vibrar e numa desaba. Essa energia solta-se apenas em “On Hold”, com uma citação circular e evolutiva de Hall & Oates. Um disco, enfim, feliz, especialmente quando celebra a própria felicidade, como em “Say Something Loving”. 

Kings of Leon - Walls ***

Um dos segredos mais bem guardados da música pop está na secção rítmica e no modo como o baixo e a bateria emulam o bater do coração. Ora compassado, em ritmo natural, ora acelerado por qualquer excitação temporária. Se ainda não há estudos científicos sobre isto, deveria haver, e os Kings of Leon bem poderiam doar o corpo à ciência. A batida é uma das principais características deste tipo de música, deliberadamente desenhada para os grandes estádios e para aquelas baterias de holofotes frenéticas. É fácil: pega-se numa boa dose de Strokes (“Around the World”), junta-se-lhe U2 (“Waste a Moment” – ouçam os primeiros segundos...) e chama-se Markus Bravs, produtor – voilá! – dos Coldplay e dos Mumford & Sons, e temos a coisa garantida. O sétimo disco é relativamente idêntico ao sexto e aparentado ao quinto. Não convém recuar muito, ou ainda de percebe que os King of Leon são apenas mais uma banda indie que soçobrou aos cifrões. Acontece muito.

Sting - 57th & 9th ***

Há na auto-citação de “I Can’t Stop Thinking About You”, que abre o disco, uma ironia quase fatal. Percebe-se a ideia: fazer um disco pop, ao fim de década e meia de aventuras extra-conjugais, retomando a história no ponto em que ela tinha graça, ou seja, nos gloriosos tempos dos Police. O exercício repete-se, de forma muito evidente, por exemplo em “Petrol Head”, e de forma quase involuntária no resto do disco. O regresso à pop faz-se ainda, paradoxalmente, através da aproximação ao jazz que marcou boa parte da sua carreira a solo (“You Can’t Love Me"). Estão aqui todas marcas caraterísticas de Sting, desde as baladas sussurradas (“Inshallah”), àquele ritmo um tanto empastelado (“50.000” – uma canção sobre a morte, com o pensamento em Prince e Bowie). E, como não poderia deixar de ser com Sting, há uma versão deluxe, com versões alternativas de algumas canções, vídeo e materiais gráficos. Coisa também ela irónica: não foi ainda desta que Sting regressou à pop. À simplicidade da pop.