Neil Young and Bluenote Café ***

Eis um excelente disco para filosofia de café. Do estilo: Neil Young tem, de facto, algumas canções bem desinteressantes, ou são essas canções meras vítimas das recorrentes aventuras estilísticas do autor? Contextualizemos. Em 1988, Young quis juntar uma big band aos gemidos da guitarra e lançou "This Note's For You". Nesse ano e no anterior, andou em digressão com a tal big band, a que chamou de Bluenote. A gravação que agora chega até nós é o 11.º capítulo na recuperação dos arquivos de Young e junta vários excertos dessa digressão. O resultado, como já se vira no disco de estúdio, não é particularmente brilhante, restando a tal dúvida inicial: culpa das canções, ou do estilo? A dúvida é tanto mais legítima quanto a fórmula big band não é sequer testada de forma extensiva no restante reportório. Excepção, particularmente bem conseguida, para "On The Way Home", a velhinha dos Buffalo Springfield que a Motown não desdenharia nesta artilhada versão.

They're Heading West ****

Samuel Úria, Peixe, Ana Bacalhau, Ana Moura, JP Simões, Bruno Pernadas, Capicua... e mais meia dúzia. Este disco é uma espécie de catálogo de alguma da melhor música que se tem feito em Portugal nos últimos anos. Uma música sem fronteiras, que vai do quase fado a sonoridades do universo anglo-saxónico. Reza a lenda que os quatro membros da banda apenas queriam juntar umas massas para viajar pelos states (daí o nome), mas verdade verdade é que foram juntando convidados, ao longo dos anos, para cantar canções próprias ou alheias. O disco recupera em estúdio algumas dessas aventuras de palco, funcionando os quatro como uma banda de suporte que define a matriz sonora, basicamente acústica, além de assinar algumas das composições. O resultado é espantosamente homogéneo, não padecendo dos desequilíbrios habituais neste tipo de colaborações. Uma das boas surpresas de 2015.

Jorge Palma e Sérgio Godinho - Juntos ao Vivo no Theatro Circo ****

Poderiam ter cantado uma canção de um dos ídolos comuns (Dylan, Brel, Zeca). Poderiam ter composto um novo tema a quatro mãos. Poderiam ter tomado conta de uma ou duas canções, fundi-las, reiventá-las... o diabo a sete. Mas não. A opção foi deliderada e completamente celebratória. Agora cantas tu uma minha e eu canto uma tua, mas entramos sempre os dois. Nove de Sérgio, oito de Jorge, que o respeitinho, apesar da amizade, é uma coisa muito bonita. O resultado é uma espécie de karaoke geracional, com a malta dos "entas" a cantarolar e, quiçá, a gingar ligeiramente na poltrona. Sim, com a pedalada que estavam poderiam ter arriscado mais, surpreender um bocadinho. Na opção conservadora sobressaem dois intérpretes em grande forma, a cantar, sobre arranjos de recorte também ele clássico, algumas das canções mais ouvidas em Portugal nas últimas quatro décadas. Quem pode fazer isto, se calhar não precisa de fazer mais.