Ana Cláudia - De Outono ***

Há uns cem segundos de uma faixa quase escondida no final deste disco de uma enorme e dupla utilidade. Revelam, por uma lado, a ossatura inspiradora destas canções, a mansidão da música contemporânea brasileira derivada da bossa nova, enquanto que, em simultâneo, apontam uma saída para o labirinto em que a concepção deste disco se deixou cair. Porque, se há tónica comum aos seis temas deste primeiro esforço discográfico em nome próprio, ela é a de um conceptualismo em excesso, que espartilha a belíssima e educada (jazz) de Ana Cláudia e a mergulha na frieza metálica das electrónicas e outros efeitos de estúdio, como a rigidez dos coros. Uma voz destas ganharia em libertar-se de todo este formalismo e em caminhar por trilhos de maior simplicidade, de que a bossa nova será apenas um exemplo. Para um disco que se explicita De Outono, funciona. Mas não deixa de ser uma auto-limitação.

Gilberto Gil, CCB 8 Nov


Os jornais franceses disseram que Gilberto está numa fase ultra-zen. Não é para menos: só em palco, ele, a voz e o violão. A mulher, Flora Gil, trata da iluminação, e - dizem as crónicas - partilha com ele a condução pela Europa fora, em regime de férias. França, com salas esgotadas, o mesmo em Itália e noutras paragens. Uma passagem pela Suíça, para uma semana de férias com o escritor Paulo Coelho, e mais zen não poderia ser. O espectáculo é isso mesmo, a revisitação da obra de Gilberto, apenas com voz e violão. E uma paragem mais demorada no último disco, já deste ano: "Gilbertos Samba", uma homenagem a João Gilberto, com Gilberto Gil a reinterpretar os sucessos do Papa da bossa nova, no mesmo registo, pausado e "desafinado". No fundo, exactamente o inverso do que fez da última apresentação em Portugal, em 2013, com o espectáculo explosivo "Fé na Festa". Aos 72 anos, com mais de meia centena de discos gravados, o compositor e cantor que já foi ministro continua a demonstrar porque é um dos nomes incontornáveis da música brasileira.