Ney Matogrosso no Coliseu


As canções que Ney Matogrosso traz agora a Portugal quase se transformaram na banda sonora da rebelião que atravessou as principais cidades brasileiras em Junho/Julho do ano passado, tendo como mote o contraste entre a pobreza do povo e os milhões gastos no Mundial de Futebol. Meses antes, Ney tinha iniciado uma digressão em que, a par de nomes consagrados, como Arnaldo Antunes, Paulinho da Viola ou Itamar Assumpção, interpretava compositores quase desconhecidos, alguns deles descobertos na Net ou em discos de autor. Desse conjunto de temas fazem parte "Incêndio" (de Pedro Luíz) e "Rua de Passagem" (de Arnaldo Antunes e Lenine), com referências quase premonitórias às manifestações que abalaram o Brasil. Tal bastou para que o nome de Ney Matogrosso fosse catapultado pelos media para a primeira linha, qual precursor da rebelião. Embora preocupado com a situação do seu país (e do mundo), ele prefere, porém, manter-se ao serviço exclusivo da música. As canções desta digressão migraram, entretanto, para um CD (Atento aos Sinais), mantendo a toada fortemente pop, assente em metais e guitarras, sobre a qual se desenvolve um show algo pirotécnico, com Ney meio nu sobre paredes de luz e leds. Aos 72 anos, e com 40 de carreira, é a sua maneira de dizer que está aí para as curvas.

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