Jake Bugg - Shangri-La **

Quatro em cada cinco críticas a Jake Bugg nos media anglo-saxónicos fazem referência a Dylan, uma prova mais, afinal, de que vivemos tempos verdadeiramente estranhos. O puto não tem voz que se apresente (conferir em "A Song About Love"), é certo, e entre o primeiro disco e este há um jogo deliberado de apelos nostálgicos, centrado entre o folk americano da primeira metade dos anos sessenta (Dylan, lá está) e a vaga brit pop dos anos 90 (os Oasis são uma influência clara em 'Kitchen Table' e, especialmente, 'Simple Pleasures'). Dylan e Jake são, porém, como as rectas paralelas, nunca se encontram. O mesmo acontece, aliás, com Rick Rubin, esse mito da produção, cuja marca neste disco é tão difícil de descortinar, descontado, talvez, o facto de ter apresentado a Jake a Chad Smith, o baterista dos Red Hot Chilli Peppers, mais que audível em 'What Doesn't Kill You', por exemplo. Digamos que, aos 20 anos e com dois discos no bolso, tem pela frente uma bela curva de aprendizagem.

Beady Eye - BE **

Este disco é uma espécie de jogo de dardos em versão áudio. Há uma outra seta com uma pontuação razoável, mas o centro do alvo fica deserto. Digamos que não é ainda neste segundo exercício pós-Oasis que Liam Gallagher acerta no tom. Basicamente, ouvem-se aqui dois tipos de canções. As mais lentas, mais acústicas, remetem directamente para os Oasis, num jogo de revivalismo beatle de que "Don't Brother Me" será talvez o expoente máximo (quase a pedir que os herdeiros dos quatro de Liverpool reclamem direitos de autor, embora a metade final seja ocupada por uma derivação sónica absurda). Depois, as outras são as que ostentam mais visivelmente o carimbo na produção de Dave Sitek (dos TV On The Radio). Por exemplo, "Flick Of The Finger", construída sobre uma parede de som à base de metais, ou mesmo "Iz Rite", a qual, apesar disso e com "Second Bite of The Apple", acaba por ser das coisas mais audíveis do disco.