Peter Gabriel - And I Scratch Yours ***

Coças as minhas costas, que eu coçarei as tuas. É uma expressão de entreajuda, com um toquezinho de frete, e Peter Gabriel terá entendido perfeitamente a aventura em que se meteu, em 2010, quando decidiu gravar 12 canções de outros tantos amigos, apenas com piano e cordas. A verdade é que, três anos depois, nem todos os amigos compareceram à chamada para gravarem uma canção de Gabriel (Neil Young, por exemplo), e o resultado global da operação deixa um tanto a desejar. Se no primeiro disco houve uma apropriação evidente das canções, com a respectiva transfiguração, nesta segunda parte a abordagem oscila entre esse movimento de apropriação ("Solsbury Hill", por Lou Reed; "Biko", por Paul Simon), a repetição quase mecânica do original ("Games Without Frontiers", pelos Arcade Fire), e coisas sem qualquer chama ou interesse ("Not One Of Us", por Stephin Merritt). Ficam as boas intenções, coisa em que Peter Gabriel é especialista.

Pearl Jam - Lightning Bolt ***

Estádios de todo o mundo, rejubilai. Os Pearl Jam estão de regresso e em grande forma. Do grunge resta a camisa aos quadrados de Eddie Vedder, a memória dos fãs de sempre e, vá lá, a sonoridade pós-punk de "Mind Your Manners". Os PJ são hoje a prova viva de que é possível ter sucesso e envelhecer sem perder a dignidade ou sequer a energia. Este é, assim, um disco honesto, do qual não salta qualquer novidade, mas em que ouvimos rock do mais clássico que por aí se pratica. As baladas, "Future Days", e especialmente "Sirens", fazem aquela pequena concessão lamechas a puxar para o isqueiro iluminado que toda as baladas devem ter. E os temas mais poderosos, "Swallowed Whole" ou "Getaway", por exemplo, mostram uma banda em plena forma, a começar pelo vocalista e incluindo as óbvias guitarras. E até há espaço para o quase experimentalismo de "Pendulum". Profissionalismo não é necessariamente sinal de tédio.