Men Among Animals - Buried Handsome ***

Continua a não haver nada de especialmente novo no reino na Dinamarca. Ao terceiro disco, e após anos de rodagem pela Europa, os Men Among Animals mostram, porém, terem encontrado um estilo distintivo quanto baste. É verdade que no esqueleto desta música assentam camadas e camadas de música anglo-saxónica das últimas décadas, mas onde não as encontramos hoje em dia? "When you smile", por exemplo, até cita explicitamente Andy Warhol, não fôssemos nós estar distraídos. Muito interessante é o à-vontade com que cruzam guitarras com electrónica, embora pareçam excessivamente fascinados pelos sintetizadores ("Neighborhood", à qual nem faltam as vozes distorcidas). A canção que ficará deste disco é, porém, uma simples balada ("They Build a Colony"), com guitarra acústica, e com uma forte mensagem política, como aliás ocorre noutra ocasião ("Failures, Flaws..."), embora aqui de forma musicalmente mais catártica. Pop algo experimentalista.

Phoenix - Bankrupt ***

Rock sinfónico dos anos 70, pop dos 80, disco sound dos 70, Strokes, música barroca e outros classicismos, Japão... Os Phoenix exploram um filão que faz do pastiche a forma de vida. De consciência tranquila, talvez por serem franceses, e até com muito gozo. Do lado de cá, o gozo dessa amálgama homogeneizada à força de sintetizadores alterna, de forma um tanto excessiva, com algum tédio, especialmente pela repetição de fórmulas. Digamos que a super criatividade de que padecem resulta amiúde num gongorismo à beira do insuportável. "Entertainment", o single, é disso um bom exemplo - uma canção com alguns achados curiosos, mas que se torna cansativa a partir, digamos, da segunda audição. Pior é o tema que tá título ao disco - uma longa e aborrecida divagação pinkfloydiana. Nos 41 minutos que dura o disco há, porém e sem exagero, uma dezenas de ideias interessantes. Demais, talvez.

Sigur Rós - Kveikur***

Os Sigur Rós deixaram-se de contemplações, literalmente ou quase, e o resultado, sendo surpreendente, não espanta nem encanta por aí além. O sétimo disco da banda islandesa, agora reduzida a três elementos, assume uma certa influência do mundo do metal e das suas correntes mais industriais e sombrias. O resultado não poderia ser mais óbvio, logo a partir da abertura, com "Brennisteinn", ou mais à frente com o tema que dá título ao CD - o ambiente é claramente pesado, à beira da opressão audio-respiratória, e alguns ouvidos menos habituados poderão mesmo confundir esta música com alguma instalação fabril fora de controlo. Os outros Sigur Rós, mais lineares e contemplativos, também marcam presença, por exemplo, em "Var", e noutros momentos ("Stormur") parecem quase soçobrar à pop. Poder-se-ia, então, imaginar que a diversidade de soluções é sinal de vitalidade. Paradoxo: estes 50 minutos (será a batida) resultam um tanto entediantes.

LLoyd Cole - Standards ***

LLoyd Cole é um tipo honesto, pacato até. Devemos, por isso, encarar as demasiado óbvias citações de Dylan presentes neste disco como uma espécie de veneração, um tributo que qualquer um de nós poderia manifestar ao Todo Poderoso. Porque, fossemos induzidos pelo marketing associado, estaríamos agora aqui a zurzir no pobre do Lloyd, que, após ouvir Tempest, o mais recente do Mestre, teria visto a luz e sido finalmente conduzido para os caminhos resplandecentes da Grande Arte. Ora o que podemos ouvir em Standards é apenas uma citação de fraseado musical, mais verdadeiramente pela via dos Byrds, em "Period Piece", e um mais descarado pastiche em "Diminished Ex". E é o que há de Dylan por aqui, e não é muito nem especialmente brilhante. O que há, e isso é mesmo bom, é Lloyd Cole do mais clássico, a remeter directamente para os Commotions da década de 80. Ou seja, música mais luminosa do que a recente discografia a solo, toda ela muito caseira e sombria. Aqui imperam as guitarras em vários formatos, sublinhadas pelos característicos coros, e uma vaga inspiração country nas baladas, como é o caso de "Myrtle and Rose", que Johnny Cash não desdenharia incluir nos famosos últimos discos (nem lhe faltam as referências bíblicas...). Imutável, na música de Lloyd Cole, independentemente da roupagem mais ou menos profissional, é aquela aura de uma melancolia que sabe bem. A despedida de "Silver Lake", a nostalgia de "Women's Studies", ou a ambivalência de "Kids Today" são apenas alguns exemplos. Essa doce tristeza é, afinal, a marca de água que suplanta qualquer citação, mais ou menos estudada, de Dylan.