JP Simoes - Roma ****

Valter Hugo Mãe escreveu um texto para este disco em que trata JP Simões por “Eduardo Lourenço da música popular portuguesa”. Faz sentido. Como sentido faria que Alexandre O’Neill fosse o autor de “Gosto De Me Drogar”, um retrato auto-irónico, vagabundo e terno do português comum, o portuguesinho, como diria o poeta, confrontado e confortado com o seu fado, num fado a descambar para o vaudeville, coro de revista de outros tempos. A graça, ponhamos as coisas assim até porque elas bastas vezes têm mesmo graça, das canções de JP Simões reside precisamente naquele jeito de agarrar a alma lusitana, na circunstância do seu tempo, como agora, perseguidos que somos por esses “talibãs da Goldman Sachs”, no retrato gaspariano (de Vítor) de “Rio-me de Janeiro”. Por falar nisso... o que este disco é mesmo é um antídoto para estes tempos deprimentes que vivemos. Som claramente solar, com apelos à dança (“O Fardo do Amor”) e até mesmo coisas a arranhar o pop ligeirito (“A Million Songs of Yesterday”). Um disco ecléctico – talvez o mais ecléctico de JP nas suas várias configurações –, uma autêntica vitrine de estilos e línguas, com o samba e o fraseado brasileiro a saírem claramente por cima, conhecida que é a queda e o jeito do cantor. É assim em “Valsa Rancho”, de Chico e Hime, mas também em “Samba Radioactivo”, novamente entre a ternura e a ironia e que transpira Vinícius por uns poros e Chico da fase teatral por outros. Do catálogo fazem ainda parte o italiano e o francês, no caso a interpretação de um poema de Boris Vian. Roma acaba por evocar a grandeza do império, mas também a sua decadência real e moral, nada que não estejamos a viver. Chateados, mas de sorriso na voz. “Vai para a tumba que te pariu”!

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