Seasick Steve - You Can’t Teach An Old Dog New Tricks ***

Há discos que avisam logo na capa que contêm “conteúdo explícito” e só os ouve quem quer ou pode. Este diz logo no título que não se podem ensinar novas habilidades a um velho cão. Deste cão velho já conhecemos todas as habilidades, especialmente a sua colecção de guitarras mais ou menos estapafúrdias, que utiliza com mestria num blues rude, sem grandes rodeios. Ora acontece que este é o quarto disco deste antigo frequentador de estúdios e, passado o “ah” de espanto das primeiras impressões, o que nós queríamos mesmo era novas habilidade. Ao invés, Seasick Steve dá-nos mais do mesmo - canções medianas. Não chega a ser mau, obviamente. Mas também não é nada de especial. Ouvem-se com agrado coisas eléctricas, como “Back In The Doghouse”, e ainda mais algumas acústicas (“Treasures”, ou “It’s A Long Way”), mas não se vai muito longe. O que só prova a falta que fazem escolas para cães adultos, uma espécie de Novas Oportunidades caninas.

Patti Smith - Outside Society *****

Aos 65, Patti Smith, a anti-heroína, salvo seja, atinge a glória. E que glória mais perfeita. Não grava há quatro anos e o último disco com material próprio data de 2004. A glória chega pela via literária, glória maior para quem sempre cultivou um estatuto de intelectual e contaminou o rock mais primário, de estruturas simples e descarnadas, com a veia poética dos clássicos franceses e americanos. A história recente de Patti Smith gira em torno de Just Kids (Apenas Miúdos, na versão portuguesa lançada este ano), o livro de memórias em que relata os momentos seminais na Nova Iorque dos anos 70, na companhia do fotógrafo, entretanto falecido, Robert Mapplethorpe. Foi com esse livro que ganhou o prestigiado National Book Award e foi na senda desse prémio que a distinguiram, na Suécia, com o Polar Music Prize (há quem lhe chame o Nobel da música contemporânea). E é Just Kids que motiva a edição desta primeira colectânea da obra de Patti Smith num único CD, o qual funciona, pelo menos parcialmente, como banda sonora do livro. A colectânea anterior (Land, 2002) baseava-se num conceito menos representativo e continha um segundo CD com raridades. Desta vez, a abordagem é sistemática e ecléctica: estão representados todos os dez discos da sua carreira, começando no obrigatório Horses (1975) e acabando no de versões (Twelve, 2008). É claro que estão aqui as canções mais conhecidas, desde a alucinada versão de “Gloria”, ao seu maior sucesso comercial, “Because The Night”, escrita com Springsteen, passando pelo energético “People Have The Power”. Mas também uma versão arrebatadora, como todas as suas canções, de “Smells Like Teen Spirit” (Nirvana), paradigma do tráfico geracional que sempre envolveu Patti Smith, artista que como poucos soube enraizar-se no passado para se manter na vanguarda.

Liam Finn - FOMO ****

Liam Finn ainda não matou o pai, para grande tristeza do doutor Freud e alegria do pai e de todos nós. Porque matar o pai talvez significasse, no caso de Liam, deixar de escrever canções pop na melhor tradição das excelentes canções pop do pai, Neil Finn, líder das bandas australianas Crowded House e Split Enz. Este é o segundo disco com assinatura própria (depois de I’ll Be Lightining, de 2007) e a matriz mantém-se: pop pura vestida de electrónica, num disco que remete frequentemente para aquele que Pete Yorn escreveu para a voz de Scarlett Joahnsson (exemplo disso é a canção de abertura “Neurotic World”, mas também a sonoridade suja de “The Struggle”). Pop mais nu é, por exemplo, “Cold Feet”, o primeiro single, ou “Reckless”, uma canção alegre que poderia ter sido escrita na Inglaterra dos anos 90. Motivos mais que suficientes para superar com distinção a prova do segundo disco.