Feist - Look At What The Light Did Now ** (extras ****)

Está tudo ao contrário. Neste pacote, chamemos-lhe assim, deve-se começar pelo fim, pelo CD áudio. É, de longe, o pedaço mais interessante desta edição - metade preenchido com actuações de Feist ao vivo, metade com improvisos de Chilly Gonzales, ao piano, sobre os temas originais de The Reminder, o CD de 2007 que está na origem de tudo isto.
Apesar de ser apresentado com a peça central, o documentário Look At What The Light Did Now é uma peça relativamente desinteressante. São 80 minutos de filmagens de bastidores, de entrevistas e de excertos de espectáculos ao vivo, tudo filmado num registo assumidamente lo-fi. A ideia é encenar a criação, gravação e apresentação ao vivo de The Reminder, o maior sucesso da canadiana Feist até à data. Mas, na verdade, não há muito que contar para lá de umas banalidades que, em circunstâncias normais, poderiam ser o extra de um DVD, mas nunca o seu coração.
A grande valia desta edição está, especialmente, no CD áudio, em que Feist interpreta com uma particular delicadeza canções como “So Sorry” ou “Where Can I Go Without You?”, ou, num formato mais pop, “Secret Heart”. Em qualquer dos casos, versões bem mais quentes e íntimas que as de estúdio.
Os próprios extras do DVD acabam por ter mais pólos de interesse que a peça central. Incluem, por exemplo, duas curtas metragens construídas a partir de canções de Feist (“The Water” e “Departures”), em que há pelo menos a tentativa de construir uma narrativa.
E há ainda algumas actuações ao vivo, embora padeçam da mesma pobreza visual do documentário central, e os clipes de maior sucesso (“1234” e “My Moon My Man”, por exemplo) de The Reminder.
São, enfim, duas ou três horas literalmente bem embaladas, para alegria de fãs e coleccionadores.

Regina Spektor - Live in London ****

Há, é certo, muita tecnologia envolvida. Mas a essência está lá. E o que mais espanta é isso mesmo – como consegue alguém encher um palco, uma sala, com uma voz, com todas as vibrações e subtilezas de uma voz. A voz de Regina Spektor merece toda a tecnologia do mundo, tal é o cuidado posto na sua modulação, os trinados, os sussurros, as explosões, a alegria de cantar. A voz está para Regina como o corpo e os artifícios cénicos estão para as beyoncés e as gagás – é ela, a voz, que enche o palco, é dela que emana toda a espectacularidade. Percebe-se isso ouvindo o CD, mas tudo se torna muito mais evidente quando se assiste ao registo vídeo em DVD, todo ele construído à volta dos grandes planos dos lábios de Regina. Por mais que o corpo cresça e se balanceie ao piano, é na voz, nos lábios, que tudo se concentra. É aí que reside a coreografia essencial desta música.
O pacote inclui os dois suportes (CD e DVD) resultantes de uma actuação, em Dezembro de 2009, no Hammersmith Apollo, de Londres. As canções são mais ou menos as mesmas (especial incidência na última gravação em estúdio, Far, de 2009), embora o alinhamento não seja idêntico. No DVD, intercalaram as canções com cenas de bastidores e da digressão, uma opção discutível, na medida em que terá sido sacrificada a relação entre a artista e o público.
Os fãs de Regina encontram aqui canções raras, como “Love, You’re A Whore”, os simples mortais têm aqui um excelente “Regina para principiantes”, uma colectânea do melhor dos seus três discos, interpretado como se de uma gravação de estúdio se tratasse. E nunca será demais salientar que tudo isto é conseguido apenas com um piano (às vezes, uma guitarra), um quarteto de cordas e uma bateria. E, claro, a voz.