Lloyd Cole - Broken Record ****

Que fazer com um fulano que começa um disco com uma declaração destas: “Não que me reste alguma dignidade”? O melhor será fingir que o levamos a sério. Afinal de contas, há um quarto de século que lhe conhecemos a queda para fazer da melancolia uma espécie de euforia. Descodificando: poucos conseguem conjugar, com esta elegância, “pain” (dor) com “gain” (ganho).
Melhor que as palavras, Broken Record demonstra essa toada fatalista que dá vontade de cantarolar um sonoro “la-ra-la” (a sério, há disso por aqui). Depois de quase uma década em que lançou discos caseiros, gravados a solo, em tom menor, Lloyd Cole grava finalmente 11 canções que, pela vivacidade, ressuscitam as boas memórias dos Commotions.
Não foi fácil, esta gravação. Afastado da ribalta (Portugal é dos raros países em que alcança um razoável sucesso), Lloyd precisou de recorrer a mil fãs, que entraram com 35 euros cada, destinados a pagar os músicos, recebendo em troca uma edição especial do CD empacotada pelo próprio.
O naipe de músicos inclui Blair Cowan, dos Commotions, e Joan Wasser (Joan As Policewoman), e a produção, com recurso a pedal steel guitar, banjos e cordas, remete mais para a América do que para a british pop a que estávamos habituados (“Westchester County Jail” e “Rhinestones” são descaradamente country). Mas há uma “Oh Genevieve” tão afrancesada que até tem acordeão e canções belas e intemporais como “Writers Retreat” ou “If I Were a Song”.
Em Outubro, Lloyd fará uma pequena tournée em Portugal (Porto, Guimarães, Estarreja, Sintra e Coimbra), com o Small Ensemble, uma versão reduzida deste grupo de músicos, e cantará certamente: “Maybe I’m not made for these times”. Talvez, mas por cá não nos importamos.