Rufus Wainwright - All Days Are Nights: Songs For Lulu ****


Não entres tão ligeiro neste disco escuro. Olha que é a sério, todos os dias são noites. Este é um disco de sofrimento, composto à medida que a mãe (Kate McGarrigle, Janeiro 2010) se despedia dolorosamente da vida. Cantado em diálogo com a irmã (“Martha”) – “agora já nenhum de nós é realmente mais velho que o outro”, muito distante do pai (Loudon) – “já nos resta muito pouco tempo para estarmos zangados uns com os outros”.
A acentuar o tom melancólico, Rufus deixou de parte as orquestrações quase barrocas de gravações anteriores e faz-se acompanhar exclusivamente ao piano.
O piano e a melancolia são, de resto, o cimento que une as várias peças desta obra. Avultam os três sonetos de Shakespeare musicados para um espectáculo de Robert Wilson com o Berliner Ensemble, uma área da primeira ópera de Rufus, Prima Donna, e ainda uma série de originais dominados por uma tónica acentuadamente intimista. Mas isso é o Rufus de sempre. Como a abertura, “Where Are You New York?”