Alicia Keys toca piano e isso faz toda a diferença. O piano,
de raiz clássica, confere-lhe um estatuto à parte, de uma certa superioridade,
nos meios R&B, hip-hop e neo-soul em que se move. Isso começa por se notar
nos discos, em que as teclas chegam a declinar um ou outro tom mais clássico.
Ao vivo, o piano como que dispensa das encenações e danças musculadas, como,
por exemplo, as de Beyonce.
Essa classe de Alicia tem, no entanto, um senão - a frieza,
tanto mais estranha quanto estamos num estilo musical em que tudo é calor, a
começar pelo humano, tudo é expansivo. Alicia leva tanto a sério a sua música,
que se “esquece” de ser sedutora, de insinuar.
Junte-se tudo isto e temos, como alguém disse, uma artista
que não sua em palco. Ou que, pelo menos, não transforma cada espectáculo numa
exibicionismo de ginásio, tão em voga, especialmente entre as vozes femininas.
Conclusão: os espectáculos de Alicia Keys são uma
sensaboria? Não necessariamente. São apenas concertos em que a vertente musical
ainda impera sobre a visual. Não estamos perante uma Madonna, ou sequer uma
Beyonce.
Esta sua terceira passagem por Portugal será centrada no
último disco (The Element Of Freedom,
2009), que, a propósito, está longe de ser o mais interessante da sua carreira.
Obviamente, os sucessos anteriores serão os mais requisitados pela plateia.
No Pavilhão Atlântico, o sucesso jogar-se-á, acima de tudo,
nos músicos e nos arranjos com que vestirão cada tema. E, claro, mais na voz
que na movimentação em palco de Alicia.