Charlotte Gainsbourg - IRM ****

Se Serge Gainsbourg fosse vivo, não faria um disco destes. É próprio dos génios, escaparem à previsibilidade. Mas este é o melhor disco de originais de Gainsbourg desde a sua morte. A cumplicidade de Charlotte, filha de Serge, confere a Beck, o americano Beck, a legitimidade para se apoderar do universo do francês mais amado pelos músicos anglo-saxónicos. Como bónus, Charlotte reincarna na perfeição, não apenas o look, mas também a pose musical da mãe Birkin.
O disco nasce de um acontecimento traumático, a hemorragia cerebral sofrida por Charlotte há três anos, e isso justifica a tensão que o atravessa. A electrónica, metáfora hospitalar, da faixa que dá título ao disco, ou as guitarras e percussões de “Trick Pony”. Quase alucinações compensadas por momentos de grande beleza melódica, como “In The End”, ou “Time of the Assassins”. Ou coisas tão pop como “Heaven Can Wait”. Gainsbourg, o pai, haveria de gostar.

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