Bon Jovi - The Circle ***

Rock pesado para domésticas e executivos. Eis a fórmula dos Bon Jovi, demonstrada com toda a pujança neste seu disco de regresso, após um toca-e-foge de separações e reagrupamentos e de um gravação (“Lost Highway”, 2007) em que o “country” media forças com o rock.


The Circle traz-nos 12 canções cheias de pedalada e de guitarras, mas também suficientemente redondas, expectáveis, para viajarem nos leitores de CD dos carros da classe média. O que mais espanta, apesar de tudo, é a espantosa resistência deste tipo de música ao tempo e às modas. Tivesse este disco sido gravado há 20 anos e seria exactamente igual.

Difícil mesmo é destacar uma ou outra canção. O grupo funciona como uma jukebox que vai pondo cá fora acordes atrás de acordes, refrões atrás de refrões, feitos a pensar em estádios e o ouvinte, por mais paciente que seja, perde-se e já nem sabe se está a ouvir a canção número dois ou a oitava.

Alela Diane feat. Alina Hardin - Alela & Alina ****

Guitarra e duas vozes femininas. A solo, em coro, em contraponto. Histórias do quotidiano, de amores e desamores, filosofia incluída. O mais puro do folk, mais britânico que americano.


Estamos num território mais radical que o psych-folk que emergiu na cena musical na viragem do milénio. Aqui, as canções, três originais e outras tantas covers, são despidas – não há vozes distorcidas, guitarras eléctricas, não, é mesmo tudo a nu. Verdadeiramente, um disco destes grava-se em casa, com o risco de parte da audiência pensar que se trata de maquetes para posterior produção e embelezamento. Nada disso.

“Matty Groves”, cuja versão mais conhecida é a dos Fairport Convention, é um excelente exemplo dessa depuração. Dos originais, “I Have Returned” é a mais conseguida. Melancólica, como tudo o resto.

Susan Boyle - I Dreamed A Dream ***

Um dia destes, no Ídolos que passa na televisão portuguesa, ouviu-se “Hallelujah” numa versão cuja principal virtualidade era de apenas durar um minuto e meio e, assim, reduzir consideravelmente os danos. Não admira. Foi a partir de um programa do mesmo tipo que uma das mais simbólicas canções de Cohen subiu recentemente aos tops britânicos. E, claro, há ainda os miúdos que agora estão no início da adolescência e que adivinham “Hallelujah” pelos primeiros acordes depois de a terem ouvido, pela voz de Rufus Wainwright (!?), na banda sonora do primeiro Shrek (!!!).


Dá que pensar, convenhamos. Como uma canção mística, que é ouvida em prece pelos adoradores de Cohen, é repentinamente convertida em algo digno de concorrer com lituanos e moldavos no Eurofestival. Questões de gosto, que os leitores da Time Out certamente gostarão de discutir entre si, mas que não terão paciência para ler na página de críticas de discos. Ainda por cima, Susan Boyle (ainda) não canta “Hallelujah”.

Lembram-se, certamente, da dona de casa escocesa que encantou o júri de um desses tais programas de imitações britânico? O primeiro disco vai buscar a canção que a tornou famosa (“I Dreamed a Dream”) e junta-lhe uma dezena de outros sucessos pop cantados à la Celine Dion, com a vantagem (Aleluia!) de Susan não ser tão estridente quanto o original.

E o que dizer destas versões, senão que são, sim, domesticadas? E que a voz de Susan Boyle é, de facto, muito boa e que, às vezes, até consegue fingir que sente aquilo que canta?

Tendo em conta a tarefa a que meteram ombros – ganhar uns cobres, reproduzindo o mesmo esquema até que se esgote –, os artífices da coisa estão de parabéns. E, na verdade, quem quiser ouvir uma boa versão de “Wild Horses” tem o original dos Stones. Ninguém chega aqui por engano.