Tom Waits - Glitter & Doom Live *****

Bastavam os extras para colar a etiqueta de “obrigatório” neste disco. Os extras são, nada mais, nada menos, que 36 minutos de histórias, piadas e bizarrias, contadas por Tom Waits nos intervalos das canções, e aqui reunidos num CD, como se de um “stand-up” se tratasse. Desde as leis estúpidas do Oklahoma, ao “museu do spam”, ao motivo pelo qual os ratos não comem apenas porque têm fome, ao trocadilho entre a percentagem de homens “importantes” e “impotentes”, passando por outras balelas fundamentais para o futuro da Humanidade, de tudo Tom Waits se lembra de contar para puro divertimento de quem o ouve.
Quando se passa do segundo para o primeiro disco, a coisa não melhora… Mantemo-nos nesse bizarro e perturbante universo de um dos mais fascinantes autores, músicos e cantores das últimas décadas. A Rolling Stone chamou-lhe “one man circus”, expressão que lhe assenta que nem uma luva, desde logo pela temática onírica que criou, toda ela cheia de personagens bizarros, mas igualmente porque a sua música – e isso é especialmente audível nesta gravação – deve muito ao mundo dos cabarets e circos. Quando canta “I’ll Shoot The Moon” quase o imaginamos no arame, com o saxofonista lá em baixo acompanhando a valsa de uma bailarina decadente.
Glitter & Doom Live junta 17 canções gravadas, em 10 cidades diferentes, durante a digressão americana e europeia do Verão de 2008. Waits faz-se acompanhar de cinco músicos que reinventam, literalmente, canções de quase toda a sua carreira. Mas o destaque vai, inteirinho, para a voz, ora sussurrante, ora projectada, como um instrumento musical. “Green grass”, cantada ao nosso ouvido, tem direito a assobio, “Goin’ Out West” transforma-se num boogie-woogie infernal, “Dirt In The Ground” é a balada herdeira do folk. A criatividade parece não ter limites.

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