Norah Jones - The Fall *****

Talvez o céu seja o limite para esta menina, nascida há 30 anos em Nova Iorque e que nunca precisou do nome do pai (Ravi Shankar) para dizer ao que vinha. Ao quarto disco, confirma que é uma compositora de rara elegância, mostra uma voz tão fresca como no primeiro dia em que a ouvimos e, acima de tudo, revela um apetite pela aventura musical que só lhe pode augurar o melhor.
Estamos longe, a léguas, da enorme surpresa da estreia (Come Away With Me, 2002), um disco que revelava uma nova e lindíssima voz e uma menina com muito jeito para compor canções que cruzavam delicadamente o jazz e a pop. Mas, nesse e no segundo CD, o registo era marcadamente tradicional. Na estrutura das canções e, principalmente, no modo de as abordar. Norah Jones poderia ter continuado esse caminho, o filão parecia inesgotável. Mas, em Not Too Late (2007) e, especialmente, neste The Fall, as estruturas clássicas do jazz ligeiro são definitivamente deixadas para trás e a compositora mostra-se em toda a sua plenitude.
Estamos perante um disco assumidamente pop. Mas um pop que arrisca, que frequentemente se deixa contaminar pelas texturas indie – “Stuck”, por exemplo, é uma das mais belas canções dos últimos tempos. Já “Chasing Pirates”, que vai certamente rodar nas rádios, bebe deliberadamente nos anos 80. Há restos de swing em “Waiting” e “Tell Yer Mamma”. E há baladas qb.
Mas isto é dizer pouco. Porque o mais marcante deste disco é o som global, completamente dominado pelas guitarras, em vários registos, mas raramente clean. Tudo na exacta medida para fazer sobressair as composições e a voz.
A edição Deluxe tem três destas novas canções cantadas ao vivo e ainda três covers (Wilco, Johnny Cash e Kinks), elas próprias reveladoras da nova Norah Jones.

Sem comentários: