T Bone Burnett - Tooth of Crime ****

Vale a pena começar a ouvir este disco pela quinta canção, “Kill Zone”. Para perceber o que poderia ter sido um disco fora de série e acaba por ser apenas um disco de quatro estrelas. “Kill Zone” é uma daquelas canções que vão directas à alma. Ao coração, se quiserem. Uma superprodução que tem tanto de Roy Orbison (sim, ele até a co-assina, apesar de ter morrido em 1988), como da insanidade de Brian Wilson, sendo que se trata do mais puro T Bone Burnett.
O resto do disco merece, obviamente, uma audição atenta. E algumas das canções exigem ser reouvidas. Mas nada se compara àquela pérola de quatro minutos.
Digamos que o resto do disco sofre das consequências da circunstância – uma colecção de canções escritas ao longo do tempo (daí o quase-fantasma da autoria de Orbison…), com base num esqueleto destinado a uma encenação da peça homónima de Sam Shepard datada de 1996. Diga-se, já agora, que apenas uma das canções tem letra de Shepard.
Eis-nos, pois, perante uma espécie de banda sonora, escrita por um especialista em bandas sonoras (de filmes dos irmãos Coen, por exemplo), em produções alheias (Elvis Costello, Counting Crows…) e em lançar discos em nome próprio muito de vez em quando.
O disco está cheio das marcas digitais de Burnett (60 anos em Janeiro passado): o blues na base de quase tudo, um pouco de tex-mex, as vozes distorcidas, uma ambiência sonora envolvente, conseguida por vezes à custa de uma certa saturação instrumental, vozes distorcidas e poemas por vezes algo bizarros, com toques de ficção científica. E, claro, um naipe de músicos luxuoso, a começar por Jim Keltner na bateria, a passar pela voz de Sam Phillips (com que foi casado), para acabar na guitarra omnipresente de Marc Ribot.

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