Stephen Sondheim - Road Show ****

Não é todos os dias que se pode ir a Nova Iorque ver um musical. E, nesta aldeia global videográfica, dá um certo prazer nostálgico “assistir” apenas à parte sonora de um desses musicais.
Road Show é a versão mais recente, e pelos vistos definitiva, de um musical que estreou, em 1999, com o título de Wise Guys (sob a direcção de Sam Mendes) e que ainda teve outra encarnação como Bounce. A música e a letra são de um dos maiores nomes contemporâneos do musical americano (Stephen Sondheim).
Estamos perante a história verídica dos irmãos Mizner (um arquitecto e um dramaturgo/empresário), a quem o pai, na hora da morte, no início do século XX, pediu que usassem os respectivos talentos para “moldar” a América. E durante três décadas foi isso que fizeram, por entre mil aventuras.
Esta edição, em CD único e acompanhada de libreto, é uma boa oportunidade para revisitar uma das grandes tradições americanas.

Paolo Nutini - Sunny Side Up ****

Tem nome de pizza italiana congelada, mas é na verdade escocês e pratica uma música que deve quase tudo às raízes americanas. Gravou o primeiro disco aos 18 e, três anos depois, mostra, com este segundo trabalho, que está uns bons furos acima da mediania que caracteriza a sua geração. E, ao colocar este CD no primeiro lugar do top britânico, mostra que se pode fazer música muito boa de que o povo gosta, sabendo nós como o povo anda com os gostos estragados.
Sunny Side Up é, como o título indica, um disco cheio de alegria, de vivacidade. Bebe no folclore escocês (“Worried Man”, “Chamber Music”), mas é na música tradicional e dos anos 50 do outro lado do Atlântico que mais se apoia (“Simple Things”, “Coming Up Easy”). A isso não deve ser alheio o facto de ter Ethan Johns como produtor e instrumentista em algumas canções.
“Candy”, amor exaltado mas adulto, talvez seja o bombom mais perfeito desta colecção.

Wilco - (The Album) ****

Este bem poderia ser o disco dos Beatles que a América nunca conseguiu fazer. E a coisa até teria graça, neste ano (esperem pelo Outono…) em que a beatlemania está de regresso. Com alguma dose de boa vontade – estes exercícios exigem sempre alguma imaginação – conseguimos ouvir tiques vocais, apontamentos musicais, linhas melódicas, modos de resolver uma canção que poderiam fazer parte de qualquer um dos discos dos Fab Four, especialmente da fase final, ou até da fase a solo de McCartney e Harrison, especialmente.
Há uma canção descaradamente roubada ao Harrison dos anos setenta (“You Never Know”), a que nem falta a mesmíssima guitarra, mas há tudo o resto, em quase cada uma das canções. Ouçam, por exemplo, os primeiros 30 segundos de “Sonny Feeling” e imaginem Paul a cantar aquilo. E nas primeiras sílabas de “Everlasting Everything” até se consegue ouvir a respiração de Lennon, isto para não falar no modo como cada instrumento se acomoda na canção.
E, bom, para a teoria da conspiração falta ainda juntar que, à semelhança dos Beatles (com o álbum branco), também os Wilco decidem fazer um disco em nome próprio a meio da carreira…
Quem não estiver virado para este exercício um pouco alucinado, pode ouvir o disco por um prisma mais tradicional. Temos, então, uns Wilco maduríssimos, longe, muito longe, das experiências sónicas de outros tempos (“Bull Black Nova” será a excepção), mas também sem cedências ao apelo facilitista do country.
Trata-se, essencialmente, de um belo conjunto de baladas, já que são elas as rainhas do disco, se bem que o tema mais apelativo (“I’ll Fight”) seja uma poderosa reinvenção dyliana. Excelente para as festas de Verão.