Mazgani - Tell the People ****

Há nesta segunda gravação de Mazgani um acentuado retorno às raízes. Coisa estranha, sendo as raízes a música americana e Mazgani um luso-iraniano. Mas a verdade é que esta segunda gravação (depois da estreia em CD de longa duração, em 2007) põe muito mais a nu o gospel, os blues e seus derivados que são a marca distintiva de um dos mais interessantes músicos portugueses da nova geração.
O megafone da capa deste EP não está lá por acaso. A música de Mazgani tem uma intensidade rara. Uma espécie de prece, ora serena, ora exaltada. A lindíssima “Dust In The Sun”, por exemplo, concilia as duas. Unindo tudo, um misticismo, que por vezes bebe directamente na Bíblia, e que não se fica pelas palavras, mas molda a pose, a entoação. Um misticismo que se estende às guitarras de Pedro Gonçalves, ora através de teias encantatórias ora em descargas vibrantes.
Este EP, com distribuição limitada (Net e Fnac), antecede o segundo trabalho de grande fôlego, prometido ainda para 2009.

Pretenders - Break Up The Concrete ****

Este é o melhor disco dos Pretenders em muitos anos. E, se rivaliza com os primeiros da banda (anos 80) nesse estatuto, ele é em tudo diferente, mantendo apenas a voz a garra de Chrissie Hynde como fio condutor. Porque este é um disco americano, como americana é Chrissie. Embora os Pretenders sejam ingleses, como inglês é o seu som. A verdade é que o regresso da alma do grupo ao Oiho natal mudou tudo. Os Pretenders continuam a ser uma das melhores bandas de rock adulto com rebeldia qb, mas agora navegam em águas quase exclusivamente americanas, basicamente rockabilly e country. E o resultado é altamente audível. Seja na abertura, com “Boots of Chinese Plastic”a lembrar Dylan, seja na divertida “Break Up The Concrete”, ou na suave “One Thing Never Changed”. Curiosamente, a editora não acreditou no disco e a edição que agora nos chega tem como bónus um Best Of. Nunca é demais.

Dave Matthews Band - Big Whiskey & The Groo Grox King ****

Quem diria? Um disco escrito e executado sob o signo da morte torna-se, afinal, um dos melhores exercícios da banda. Trazendo para estúdio, talvez como nunca antes, a vivacidade e a liberdade que os tornou famosos nas exibições ao vivo. A começar pelo título e espraiando-se por quase todas as canções, este disco é uma homenagem a LeRoi Moore, o baixista do grupo, que morreu em 2008 num acidente. As referências directas e indirectas são quase constantes, transformando a obra num festivo funeral de Nova Orleães, a que a capa faz referência. O disco não é, porém, surpreendente: trata-se daquele som cheio, que a partir do rock absorve referências jazz e world music. As canções valem por si, mas em cada uma delas vamos encontrando pormenores, especialmente de produção, que as tornam distintas. Os muitos seguidores da banda em Portugal têm aqui material para muitas horas de fruição.

Eric Clapton and Steve Winwood - Live From Madison Square Garden ****

Os Blind Faith foram um dos mais evidentes meteoros da história do rock – três grandes músicos apenas conseguiram fazer um disco, num tempo (1969) em que a explosão de criatividade dos sixties procurava caminhos de sobrevivência.
Quatro décadas depois, dois dos protagonistas dessa experiência (o baterista Ginger Baker ficou de fora) voltaram juntos à estrada mostrar o que andaram a fazer e o que poderiam ter feito. Este duplo CD foi gravado nos concertos de arranque de uma pequena digressão americana e reúne velhos êxitos dos Blind Faith, dos Traffic (a banda em que Winwood vingou), de Clapton, velhos blues e… uma espécie de homenagem a Jimi Hendrix.
Apesar de estarmos na presença de titãs, não há choque. A guitarra e a voz de Clapton convivem serenamente com a voz e as teclas de Winwood, sem exibicionismos em excesso. Em suma, uma boa amostra de um rock que resistiu a modas e do qual, curiosamente, encontramos mais semelhanças do que seria de esperar com a música que hoje se faz.

God Help The Girl ***

Eis, então, o novo disco dos Belle & Sebastian. Perdão, este não é um disco dos B&S. É, isso sim, mais um conjunto de belíssimas canções que Stuart Murdoch, o senhor B&S, decidiu colocar maioritariamente nas cristalinas vozes de umas meninas que ele descobriu.
Em 2010, estas canções deverão ser a banda sonora de um filme, escrito por Murdoch, acerca de uma moça hospitalizada com problemas nervosos mas que – adivinharam! – simplesmente está a aprender a lidar com o amor, os desamores e o mundo dos adultos.
Por agora, temos a canções. Perfeitas (“Come Monday Night”), ou não tivessem saído das mãos de Murdoch, mas cujas interpretações demasiado bem comportadas lhes conferem por vezes um tom meloso quase monocórdico.
Quando Murdoch aparece (“Hiding Neath My Umbrella”) as coisas assumem um cariz mais genuíno. Já Neil Hannon (Divine Comedy) não consegue conferir densidade a uma “Perfection As a Hipster” demasiado teatral. Talvez que o pequeno problema deste disco seja esse – a contingência da banda sonora.