Iggy Pop - Preliminaires ****

Primeiro aviso preliminar: os fãs de Iggy Pop devem pensar duas vezes antes de comprar este disco.
Segundo aviso preliminar: este disco é muito bom e qualquer pessoa de bom gosto deverá ouvi-lo.
É claro que, com isto, não se pretende dizer que os fãs de Iggy Pop são pessoas de mau gosto. Mas, aos 62 anos, diz ele num texto de promoção ao novo disco: “Estou um bocado farto de ouvir rufias idiotas com guitarras”. E, bom, isto deverá magoar ligeiramente a legião de punks e pós-punks que o adoptaram como avô.
Este disco, a começar pelo título, é todo francês, se bem que apenas uma canção utilize essa língua – a mais que célebre “Les Feuilles Mortes”, em duas versões arrebatadas. Mas, a abrir e a fechar, é ela que marca todo o ambiente deste Preliminaires. É certo que há por aqui muita influência jazz (“King Of The Dogs”) e até – ah sim – guitarras barulhentas (“Nice To Be Dead”), uma canção que é tal e qual Doors (“A Machine For Loving”), outra que anda pelo blues (“She’s A Business”) e que Nick Cave ou até Leonard Cohen se escondem em algumas esquinas.
Mas a grande influência é mesmo Gainsbourg e o seu pop francês que foi beber, ele próprio, influências a tudo o que atrás foi descrito. Até uma ninfeta Iggy arranjou para que não tenhamos dúvidas (“Je Sais Que Tu Sais”). “I Want To Go To The Beach” ou “Spanish Coast”, duas das mais melódicas canções, poderiam perfeitamente ter sido escritas por um dos compositores franceses da actualidade. A esta marca francesa não será alheio o facto de o autor ser ter inspirado para algumas das canções no livro A Possibilidade de Uma Ilha, de Michel Houellebecq (“A Machine For Loving”) é mesmo uma transcrição dessa obra).
Acho que não será ofensa dizer que Iggy Pop amadureceu. E que ganhámos um novo artista chamado… Iggy Pop.

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