Joan Baez - Day After Tomorrow ****

Joan Baez tem 67 anos, a sua voz ressente-se e isso… nem é mau de todo. Já no disco de regresso, após meia dúzia de anos de silêncio (Dark Chords on a Big Guitar, de 2003), isso se notara. Baez perdeu aquele tom ligeiramente estridente que lhe conhecíamos desde os anos 60, tem a voz mais débil, menos elástica, mas igualmente mais serena e, em certa medida, mais audível.
Este disco assinala o 50.º aniversário de carreira e tudo nele revela um grande esforço de perfeição. Ou seja, de regresso à pureza das raízes, como se fosse possível suspender o tempo para as comemorações.
A produção, a cargo de Steve Earle, que também assina três das canções e acompanha Baez numa delas, pôs a velha activista a cantar temas assinados por grandes autores contemporâneos, como ela fez nos na anos 60, e envolveu tudo numa sonoridade acústica de grande simplicidade, tal e qual como Baez fizera nos anos 60. Para que tudo fosse perfeito, bastaria o impossível – que ainda houvesse causas à volta das quais cantora e ouvintes se reunissem em coro.
O resultado, não sendo surpreendente – a ideia não era seguramente essa –, não deixa de ser agradável. Por exemplo, na canção que dá título ao CD, uma evocação da guerra do Iraque por Tom Waits, temos Baez de viola em punho, quase como reza a lenda. Registo ainda para o tema de Costello e T. Bone Burnett («Scartet Tide»), escrito para o filme Cold Moutain e que aqui tão bem ilustra a veia folk da ex-amiga de Dylan.
«God is God» (quem diria?) e «I Am A Wanderer», escritas de propósito por Earl para este disco, são outros dois excelentes exemplos dessa Baez vintage que se tenta atingir.
Um disco que, enfim, não ressuscita os anos 60, nem dá nada de muito novo ao mundo. Mas que se ouve sem aborrecer. Nada mau, nos dias que correm.

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