Bob Dylan - Tarântula ***

Esta é a história de “Jane, cheia de pica, & o seu guarda-costas histérico”. Ou será de a de “um homem estranho a quem temos chamado Simplesmente Isso”? Ou a do “senador vestido de ovelha austríaca”, ou talvez a do “camionista com uma sabrina debaixo dos olhos”? Bom, a verdade é que ninguém sabe que história é esta e diz a lenda – com Dylan, tudo é lenda – que o próprio autor, questionado sobre a coisa, terá respondido mais ou menos assim: “That’s bullshit. This is nothing”. Uma treta, portanto.
A história de “Tarântula” merece ser contada. Estávamos em 1964, Dylan tinha acabado de trair a cena folk e preparava-se para subir ao Olimpo, transformado em líder contrariado de uma geração inconformada. Inebriado pela fama e talvez por outras coisas, assina um contrato milionário com a Macmillan para a edição de uma novela. Diz a tal lenda que, por Nova Iorque e arredores, terá enchido várias casas de centenas de páginas de manuscritos de uma escrita automática muito em voga na altura. À editora foram entregues 130 páginas de algo que o próprio autor se comprometeu a rever. Mas, entretanto, deu-se um famoso acidente de mota e o texto começou a circular em edição pirata, até que, em 71, a editora coloca cá fora a versão oficial (e nunca revista).
Trata-se de uma bizarra mistura de prosa e poesia, um calidoscópio de pequenas histórias e pensamentos, sem que se consiga descortinar um fio condutor ou sequer um sentido. O facto é que a escrita (64/66) de “Tarântula” coincide com a dos três melhores discos de Dylan e no livro encontramos frequentemente o mesmo tipo de lenga-lenga caótica, onírica, absurda que brilha em muitas das suas canções da época. Resta saber se a novela foi um tubo de ensaio para os discos, ou apenas uma espécie de aparas que iam sobrando.

Sem comentários: