Randy Newman - Harps and Angels *****

Ao fim de dez anos a brincar às bandas sonoras, com Oscar e tudo pelo meio, Randy Newman regressa com um disco de dez canções que, todas juntas, não chegam aos 35 minutos. Parca colheita? Antes pelo contrário, valeu a espera e vale a pena pagar o preço de tabela por esta meia hora de grande música.
Grande música porque Newman volta em grande estilo. Irónico, sarcástico, político, poético. Ao piano, mas também quase sempre acompanhado por uma enérgica orquestra de dixieland.
A canção mais marcante do disco é, obviamente, “A Few Words in Defense Of Our Country”, uma mordaz crítica à actual liderança americana, que já tinha estado disponível no iTunes e até havia sido publicada no New York Times como artigo de opinião (!). Newman garante que Bush, apesar de ser o pior líder de sempre da América, não é tão mau como o pintam. Pelo menos, quando comparado com Estaline, Hitler, ou os fulanos da inquisição… Uma canção que acaba, tristemente, a declarar o fim do Império Americano, “um país à deriva na terra dos bravos e no berço dos livres”.
O tom ácido mantém-se, por exemplo, em “Piece of the Pie” (se somos os mais ricos do mundo, porque não somos mais felizes?), ou numa sátira sobre o declínio dos estudantes americanos perante o empenho dos imigrantes (“Korean Parents”).
Já “Harps and Angels”, que dá o nome ao disco, é uma belíssima reflexão sobre a morte, o encontro com os anjos e um deus que até fala francês e admite que se engana…
Salva-se da onda de cinismo, a belíssima “Feels Like Home”, uma genuína canção de amor, escrita há mais de uma década e já interpretada por muita gente, mas a que o autor dá finalmente voz.
Como se calcula, estamos perante um disco para ouvir com atenção. Não apenas pelo que se diz, mas igualmente pela riqueza de pormenores da orquestração. Como se de um filme se tratasse.

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