Sheryl Crow - Detours ****

Eis um disco que poderá fazer o consenso à volta de Sheryl Crow. Os que vêem nela apenas mais uma loira de sucesso têm a primeira parte, uma meia dúzia de cançõezinhas muito preocupadas com o mundo, mas ainda mais com os tops. Quem entende que estamos perante uma compositora mais que mediana, embora sem exageros, que se atire directamente para a segunda parte do CD, onde encontra alguns temas de maior espessura. Digamos que Detours tem um lado solar e um lado lunar, sendo que no segundo Sheryl Crow se sai bastante melhor, mesmo que seja o primeiro a trazer-lhe a fama.
Estas 14 canções rompem um silêncio de três anos muito preenchidos na vida da artista. Venceu um cancro da mama, namorou e separou-se do super-veloz Lance Armostrong e adoptou uma criança. Tudo isto é contado na segunda parte do disco, em canções como “Make It Go Away” (a doença), “Diamond Ring” (a separação), ou “Lullaby for Wyatt” (o filho). Um registo autobiográfico deliberadamente explícito, que poderemos tomar à conta de exorcismo.
Na primeira parte, é a Sheryl Crow activista que se apresenta, num tom capaz de irritar qualquer alma menos pacifista. Bush é chamado de mentiroso, apela-se à paz universal com recurso à língua árabe e proclama-se o amor e a gasolina, ambos gratuitos, ou livres, se quiserem (a língua inglesa ainda é mais traiçoeira que a nossa).
Lennon e Harrison, lá nas alturas, é que hão-de estar em delírio. Não apenas com as guitarras do segundo, em “Love Is All There Is”, nem com a variante lennoniana de “Peace Be Upon Us”, mas com o tom claramente beatleano que embebe a maioria das canções. Sem complexos, um disco que ombreia com os melhores de Sheryl Crow.

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