Michael Bublé - Call Me Irresponsible *****

O gajo é canadiano e, sabes, os canadianos estão sempre acima de qualquer suspeita e, além disso, estão na moda… - Queres então dizer que é assim uma espécie de Julio Iglesias canadiano? – Nada… se quiseres, é mais um Sinatra, enfim, um quase-sinatra, canadiano.
Michael Bublé, imagina-se, deve estar farto que lhe perguntem pelo Sinatra. Sim, que terá sido uma influência, sim, que lá em casa, casa de músicos, se ouvia muito Sinatra, e Ella e os outros todos. Mas é inevitável pensar em Sinatra quando se ouvem discos como este, mesmo que a voz fique, digamos, um bocadito longe da Voz. Mas ele é o repertório, ele são as orquestrações, ora à Nelson Riddle, ora mais jazzísticas, ele é toda a pose, e sabemos como a pose conta, oh se conta, nos dias que correm.
Não vale a pena menosprezar. É claro que discos como este acabam muitas vezes como bandas sonoras de romances urbanos, mas não deixa de ser verdade que, envolvências à parte, o que sobra é muito bom, mesmo muito bom.
O disco é obra de profissionais. Os arranjos, sejam eles de cordas ou de metais, são do mais sublime que se fabrica. As canções, e isso é sintomático, vão dos clássicos mais clássicos (“The Best Is Yet To Come”, “Me and Mrs Jones”, “Call Me Irresponsible”), aos clássicos menos óbvios (“I’m Your Man”, “Wonderful Tonight”, “Always On My Mind”) aos originais de Bublé, potenciais clássicos eles próprios (“Lost”, “Everything”). A elegância colocada na recriação das canções de Nelson e Clapton (esta em mui conseguido dueto bilingue com Ivan Lins), ou a subtileza cinematográfica com que é abordado o original de Cohen bastariam para tornar a audição obrigatória. Mas há mais, basta pôr de parte o preconceito.

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