Alicia Keys - As I Am ***


Alicia Keys é tão boa, tão boa, que até chateia. Também é gira, mas façamos de conta que no mundo da música isso não conta. Fiquemos, pois, pela música. Alicia Keys é uma virtuosa, uma perfeccionista, uma enciclopédia musical a debitar pautas de piano desde os sete anos.
Este disco começa com 50 segundos de piano à la Chopin, como que a lembrar-nos que esta é a tal miúda de cultura clássica que se perdeu pela soul… O problema é que Alicia Keys não se perdeu, naquele sentido bíblico de entrega da alma, como a música soul, música de perdidos por excelência, exigiria. A música de Alicia Keys, como se pressentira nos dois discos anteriores (não contando com o Unplugged de 2005), é calculista. Onde parece estar paixão, pressente-se artifício. Onde se esperaria risco, temos profissionalismo. Há inspiração, é certo, mas numa dose convenientemente moderada pela transpiração.
Quer isto dizer que estamos perante um mau disco? Nem por isso. De Alicia Keys nunca se poderá esperar um mau disco. Só que a exigência deve ser proporcional ao currículo acumulado e desta super-premiada nova-iorquina esperava-se agora mais que uma revisitação da Motown (Teenage Love Affair), da Stax (Where Do We Go From Here), de Prince (Like You’ll Never See Me Again), ou até dos Black Eyed Peas (No One). Em registo muito aveludado, muito redondo, de produção muito profissional.
Nem tudo será reelaboração, mas se é certo que Alicia Keys parece não se contentar com o classicismo da soul e parece querer procurar algo mais, não se consegue descortinar até onde poderá chegar, que caminhos pretende trilhar que a projectem para lá da mediania desta gravação.

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