Queen Latifah - Trav’lin’ Light ****


Este é um daqueles discos que merece uma audição às escuras. Ouvir, apenas, sem tentar sequer olhar para a capa, perceber quem canta, de onde isto vem. Sim, foi o que fiz e recomendo.

Queen Latifah, convenhamos, é um nome que diz pouco a uma imensa maioria, ou, na pior das hipóteses, até baralha. A década de 90 passou-a ela investida na categoria de uma das primeiras rappers e depois hip-hoppers, tendo mesmo ganho um Grammy pela ousadia. Depois, fez cinema, talk-shows e mais umas coisas, até que, há três anos, com The Dana Owen Album, descobriu os clássicos e uma nova forma de utilizar os muito razoáveis dotes vocais.
A reincindência que aqui nos traz eleva essa aposta a um novo patamar. Um lote de grandes canções, músicos de primeira, arranjos de luxo, uma voz justa, e eis-nos perante um disco muito gratificante. Uma dos prazeres da audição, prazer à parte, é precisamente perceber o que faz a Rainha com os clássicos em que pega. E o que é deveres surpreendente é a capacidade de partir das interpretações anteriores, reinventá-las, mas deixando sempre a pairar uma fragrância do original. É assim que quase vamos ouvindo por aqui Peggy Lee, Nina Simone, Billie Holiday e mais meia dúzia.
O começo, sendo agradável é ainda quase Carole King, mas depois vem um “Corcovado”, em versão inglesa à la Sinatra, em que os arranjos de cordas parecem ter saído directamente das mãos de Jobim. E quando o piano de Nina Simone quase parece romper em “I Want a Little Sugar in My Bowl”? E há ainda espaço para a invenção pura em “I’m Not In Love”, ou na orquestração de um “How Long” em que a voz é mais Pointer Sister que algumas das manas. Isto a par de uma mão cheia de swings de grande recorte. Recomendável. Altamente.

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