Tina Brown - Diana, Uma Vida

É assim que se alimentam os mitos. E os cofres dos que vivem à conta deles. No décimo aniversário da morte da Princesa do Povo – fantástica invenção do blairismo ¬– Tina Brown escreve a obra definitiva sobre Diana. Definitiva porque não se vislumbra o que mais possa ser contado que não esteja nestas 500 páginas a abarrotar de pormenores, ora relevantes, ora nem por isso, frequentemente dando guarida à pura maledicência ou conjectura vã das muitas fontes que exigiram o anonimato. A autora vasculhou todas as obras entretanto publicadas, passou a pente fino os tablóides da época, fez mais de 250 entrevistas, para nos contar uma história sem grandes novidades, mas em que, a cada linha, há um nome, uma transcrição, uma referência, uma história. Naquele estilo tão americano de nos colocar de olho no buraco da fechadura e intercalar a densidade dos factos com as tiradas psicologizantes necessárias à confirmação de uma qualquer teoria. No caso, o terrível erro de casting que constituiu o casamento de Carlos e Diana. Poucas pessoas poderiam contar esta história com tal desenvoltura. Tina Brown participou no nascimento do mito, no início dos anos 80, quando dirigia a Tatler de Londres, uma revista sofisticada de mexericos. Depois, ganhou espessura intelectual quando passou com êxito pela Vanity Fair e pela New Yorker, antes de se estatelar com o projecto pessoal da Talk e de repetir a proeza com um programa de televisão. Digamos que partilha com a sua personagem a experiência de ter saboreado a fama e a lama do sistema mediático. Porque é disso que se trata quando se fala do mito Diana, a confirmação literal da ideia de que quem nasce pelos media, pelos media morre. Excessivamente literal, no caso.